Impactos da mudança da jornada semanal nos custos da empresa de ônibus

(*) Wan Yu Chih, dezembro de 2024.



Um movimento liderado por um vereador do PSOL do Rio de Janeiro levou a deputada federal Erika Hilton, do mesmo partido, a apresentar, em maio deste ano, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe mudar a duração do trabalho normal para "não superior a oito horas diárias e trinta e seis horas semanais, com jornada de trabalho de quatro dias por semana”.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece que os funcionários não podem trabalhar mais de 8 horas por dia ou 44 horas por semana (com a possibilidade de realizar até 2 horas extras por dia). A divisão dessas horas por dia de trabalho, conhecida como escala de trabalho, não é estipulada por lei, permitindo que as empresas definam escalas mediante acordo com os empregados.

Como esperado, a proposta gerou grande polêmica e expectativa no mercado. Para estimar o impacto dessa mudança na jornada sobre os custos de uma empresa de ônibus, realizamos uma simulação considerando uma empresa típica de porte médio.

Dados de uma empresa de porte médio:

  • Salário mensal: R$ 3.025,05 por motorista.
  • Encargos sociais: 70%.
  • Benefícios mensais: R$ 590,00 por motorista.
  • Adicional de horas extras: 75%.
  • Frota operacional: 100 ônibus.
  • Número de motoristas: 170.
  • Jornada semanal atual: 44 horas.
  • Quantidade de horas extras sobre horas normais: 10%.
  • Quantidade de semanas no mês: 4,29.

O salário médio utilizado foi o informado pelo CAGED para motoristas de nível II, com 4 a 6 anos de experiência. A jornada de trabalho semanal de 44 horas corresponde a 69% dos motoristas da base de dados.

Nesse cenário, o custo total mensal atual dessa empresa com motoristas seria de R$ 1.157.744,04.

Havendo redução da jornada semanal para 36 horas, e para manter a mesma carga de trabalho total, a empresa precisará contratar mais motoristas ou pagar horas extras, ou um misto dos dois. Adotando a premissa de que não haverá aumento de produtividade, estimamos o custo de cada cenário.

Cenário 1. Manutenção das horas extras com aumento de pessoal

Supondo que a empresa opte por aumentar o quadro de pessoal, mantendo a mesma quantidade atual de horas extras, seriam necessários mais 38 motoristas e o custo total mensal com motoristas subiria para R$ 1.416.328,01.

Cenário 2. Aumento de horas extras sem contratação de pessoal

Supondo que a empresa opte por não contratar motoristas e pagar a diferença como como horas extras, o custo total mensal com motoristas atingiria R$ 1.542.723,67.

Com base nessa análise, o aumento no custo mensal da empresa seria de aproximadamente 22% a 33%, dependendo da estratégia adotada.


Cenário Situação atual 1. Manutenção das horas extras com aumento de pessoal 2. Aumento de horas extras sem aumento de pessoal
Motoristas 170 208 170
Jornada semanal 44 36 36
Hrs normais mês 32.057 32.057 26.229
Hrs extras mês 3.206 3.206 9.034
Custo mês R$ 1.157.744,04 R$ 1.416.328,01 R$ 1.542.723,67
Aumento de custo 0% 22% 33%


Sob a ótica do transporte urbano, os motoristas alocados em escalas 4x3, com descanso durante os dias úteis, precisarão receber, conforme a CLT, uma folga adicional no domingo a cada mês. Essa folga deverá ser coberta por um novo folguista, gerando custos extras para a empresa.

Caso a PEC com a escala 4x3 seja aprovada, será necessária uma reorganização das escalas para garantir a operação das linhas de ônibus em todos os dias da semana. Isso exigirá a criação de jornadas de trabalho de segunda a quinta, de terça a sexta, e assim sucessivamente. Por sua vez, muitos escritórios e comércio passarão a funcionar de segunda a quinta, fechando aos fins de semana, alterando o padrão de demanda no transporte público. Haverá um aumento no número de passageiros entre segunda e quinta-feira, enquanto sextas-feiras e sábados tenderão a apresentar um movimento semelhante ao dos domingos.

Apesar do aumento de passageiros nos dias úteis, a receita mensal permanecerá inalterada devido à queda no fluxo de passageiros nas sextas-feiras e sábados. Essa mudança no padrão de demanda exigirá a ampliação do quadro de motoristas, agravando ainda mais os custos da empresa.

Conclui-se, portanto, que com a aprovação da PEC, o aumento de custos com motoristas pode facilmente ultrapassar a casa dos 30%, o que inevitavelmente terá que ser repassado à tarifa de ônibus.

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A proposta já obteve as 171 assinaturas necessárias para iniciar sua tramitação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) para análise de admissibilidade. Se aprovada na CCJ, seguirá para uma comissão especial que avaliará o mérito da proposta. Em seguida, será submetida a dois turnos de votação no plenário da Câmara dos Deputados, onde são necessários pelo menos 308 votos favoráveis em cada turno para aprovação. Caso obtenha êxito na Câmara, a PEC será enviada ao Senado, onde passará por comissões e votações em dois turnos, necessitando do apoio de pelo menos 49 senadores em cada turno.


(*) O autor é diretor de negócios da WPLEX Software, empresa catarinense que atua há mais de 25 anos no desenvolvimento de soluções inteligentes de otimização de horários e escalas para transporte público.


A WPLEX é uma empresa catarinense líder em soluções inovadoras para a otimização da operação de sistemas de transporte público. Nossas tecnologias abrangem desde a otimização de horários e escalas até o monitoramento de frotas e informação ao passageiro, garantindo uma operação precisa e eficaz.

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